Nos anos 1980, Naji Nahas foi uma das figuras mais poderosas e controversas do mercado financeiro brasileiro. Como proprietário de 7% das ações da Petrobras e 12% das ações da Vale, ele era considerado um dos homens mais ricos do país. No entanto, sua ascensão meteórica foi seguida por uma queda dramática que abalou as fundações do mercado de ações brasileiro.
A Construção de um Império Financeiro
Nascido em 1947 no Líbano e criado no Egito, Naji Nahas teve uma educação privilegiada. Seu pai era um bem-sucedido dono de fábrica de tecidos, e o próprio Nahas recebeu uma educação de alto nível, estudando economia e negócios na Universidade de Beirute e na Universidade de Oxford. Em 1967, ele se casou com uma brasileira chamada Sueli, e sua primeira visita ao Brasil em 1969 provaria ser um evento que mudaria sua vida.
Durante essa viagem, Nahas foi o único passageiro de um voo da Varig que foi sequestrado e desviado para Cuba. Sua capacidade de negociar com os sequestradores lhe rendeu ampla atenção da mídia, e ao retornar ao Brasil, ele trouxe consigo uma herança de 50 milhões de dólares. Nos 12 anos seguintes, Nahas transformou esse capital em um conglomerado de 27 empresas, abrangendo vários setores como agronegócio, finanças e até criação de coelhos.
Controvérsias e Alegações
A ascensão de Nahas ao poder não foi sem controvérsias. Em 1980, ele foi acusado de estar envolvido em um esquema com os irmãos bilionários do Texas para manipular o mercado global de prata. Embora ele tenha sido eventualmente absolvido de qualquer delito, o incidente destacou suas conexões e influência no mundo financeiro.
Em 1986, Nahas também se envolveu em uma disputa com um banco francês, que o acusou de causar mais de 110 milhões de dólares em prejuízos à instituição, forçando-a a vender sua participação no banco brasileiro que co-possuíam.
A Queda
Apesar desses contratempos, Nahas continuou a dominar o mercado de ações brasileiro, tornando-se o maior investidor na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ). Ele era conhecido por suas ordens de compra massivas, às vezes instruindo corretores a comprar uma ação específica por um período determinado, como "Compre ações da Petrobras por 30 minutos, por favor". Em 1988, uma única transação de Nahas representou 60% do volume diário de negociação na BVRJ.
No entanto, as estratégias de negociação altamente alavancadas de Nahas, que dependiam de fundos emprestados, logo o alcançaram. Surgiram suspeitas de que ele estava inflacionando artificialmente os preços das ações que negociava, uma prática conhecida como esquema "D5". Isso envolvia Nahas comprando ações a crédito e depois pagando por elas com dinheiro emprestado, um processo que ele repetia para acumular cada vez mais ações.
Em 9 de junho de 1989, a bolha estourou quando um cheque emitido pela empresa de Nahas, Selecta Comércio e Indústria, no valor de 39 milhões de novos cruzados, foi devolvido por falta de fundos. A notícia de que o maior investidor do mercado não conseguia cobrir suas dívidas se espalhou rapidamente, causando uma venda maciça que fez a BVRJ e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) perderem um terço de seu valor.
O colapso do império de Nahas levou à falência de várias corretoras e ao eventual fechamento da BVRJ em 2000. A Bovespa, por outro lado, conseguiu se recuperar confiscando a carteira de ações de Nahas, que estava avaliada em 500 milhões de dólares. Nahas também foi acusado de usar "laranjas" para manipular os preços das ações e foi condenado a um ano de prisão domiciliar por crimes contra a economia popular e o sistema financeiro.
Consequências e Controvérsias Contínuas
Mesmo após os eventos fatídicos de 1989, Nahas continuou envolvido em batalhas legais e controvérsias. Em 2007, ele processou a Bovespa por 10 bilhões de dólares em danos, sem sucesso. Em 2008, ele foi preso como parte da investigação da Operação Satiagraha sobre lavagem de dinheiro, mas foi posteriormente absolvido.
Mais recentemente, em 2021, Nahas enfrentou a ameaça de ser despejado de sua mansão no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo, pois a propriedade não era mais considerada dele devido a um acordo financeiro complexo feito na década de 1990. Atualmente, ele está apelando da decisão e conseguiu adiar o despejo, mostrando sua contínua habilidade de navegar pelo sistema legal.
A história de Naji Nahas é um conto de advertência sobre os riscos e consequências da especulação financeira desenfreada. Sua ascensão meteórica e queda dramática deixaram uma marca indelével na história do mercado de ações brasileiro, servindo como um lembrete da fragilidade dos impérios financeiros e da importância da supervisão regulatória.
Fonte: Naji Nahas: o homem que QUEBROU a bolsa do Rio de Janeiro
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